No dia 20 de novembro de 2009, sexta-feira, o Festival de Cultura do Paraná realizou no Palco da Reitoria um debate com o tema A Representação do Negro na Mídia. A palestra fez parte do segundo dia do festival, que dedicou sua programação à comemoração do Dia da Consciência Negra, celebrado nesta data. As falas saíram levemente do clima profissional e aproximaram-se de um bate-papo entre os convidados e os presentes, que tiveram longo espaço de tempo para expor opiniões e realizar perguntas ao fim da apresentação. Os convidados eram Luís Carlos Paixão, professor da Secretaria De Estado da Educação do Paraná, Thais Pinhata, estudante de Direito e representante da Rede de Mulheres Negras do Paraná e Andressa Ignácio, participante do Fórum Paranaense da Juventude Negra. Eles expuseram suas respectivas posições quanto ao tema e acabaram por convergir num quadro preocupante: a presença do racismo e da violência, sendo ela física e simbólica, contra o negro no Brasil.
O debate cobriu, num primeiro momento, questões históricas sobre o negro em nossas terras, como o momento pós-abolição da escravatura e a problemática da necessidade de “embranquecer” a população por parte dos que dominavam naquela época, apresentadas por Paixão. Torno-se inevitável também a comparação com a imigração européia, que foi realizada com sucesso e com as devidas condições econômicas e políticas para se viver aqui. Há também a denúncia feita pelo professor sobre o fato de resistências e grandes feitos de negros antes da abolição serem omitidos pela mídia e até pelo ensino escolar. De maneira geral, segundo ele, a representação negra que chega ao público resume-se a um indivíduo de força bruta, apto a trabalhos que a exijam ou ligado a atividades lúdicas, como culinária ou a prática da capoeira.
Em seguida, Andressa apresentou temáticas envolvidas com o Movimento de Juventude Negra e a criminalização do jovem negro pelos meios de comunicação. Para ela, é notável o uso de “dois pesos e duas medidas” no julgamento e cumprimento da lei quando se trata de um cidadão negro. A mídia, que seria a grande culpada segundo Andressa, acaba sendo parcial e sensacionalista, promovendo apenas debates rasos sobre essa questão de criminalização e construindo levemente um “perfil de criminoso”, que não acaba fugindo do jovem negro.
Finalmente, Thais abordou a questão da mulher negra e como ela é representada na mídia, desde novelas até os noticiários. Segundo a estudante, há três representações básicas nos meios de comunicação: a “dona Maria”, mulher benevolente e prestativa, dona-de-casa e responsável por diversos membros da família; a doméstica, que cumpre as tarefas da casa e é submissa hierarquicamente à patroa, mantendo com ela relação rasa de amizade; e a mulata que se utiliza de sua sensualidade para garantir seu espaço na sociedade. Além disso, ela frisou que o direito a comunicação, que não seria exatamente cumprido, não se limita a assistir e ter acesso aos meios, mas sim ter a possibilidade de participar de um deles livremente.
Com relação aos movimentos populares e a mídia alternativa, as respostas apresentadas foram positivas. Segundo os palestrantes, os meios populares são fundamentais para uma melhora na representação do negro, pois possibilitam um maior espaço para esse movimento pronunciar-se e defender os ideais corretos de exposição, enquanto a grande mídia, quando cede seu espaço ao movimento ou a personagens negros, acaba por representá-lo de forma errada.
Se houve um consenso geral no debate, é o de que a mídia hegemônica reproduz o negro de maneira ideológica, alienante. Apesar do mito da democracia racial que percorre o país, o Brasil ainda é essencialmente racista.
“Este material foi produzido por Tiago César Galvão e Nilton Kleina, do Núcleo de Comunicação e Educação Popular (NCEP) da UFPR, e faz parte da Comunicação Compartilhada do Festival de Cultura do Paraná. A iniciativa consiste no entendimento da comunicação como ação política e não apenas como canal de circulação de informações. Trata-se de um processo de interpretação da realidade desenvolvido colaborativamente em contraposição à lógica competitiva da mídia de massas. Para saber mais, acesse: http://cc.nosdarede.org.br”
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