quarta-feira, 23 de março de 2011

[GREVE] Carta aos alunos de Publicidade e Propaganda da Federal

A opinião de um colega nosso sobre estágios e a mobilização. É direcionada a PP, mas serve para todos!


Carta aos alunos de Publicidade e Propaganda da Federal

O ano era 1999. Lembro de estar na cantina do campus da Santos Andrade com alguns colegas de turma. Faltavam alguns meses para a nossa formatura, e um de nós falou em tom bem-humorado: "Não sei o que aprendi aqui nesses quatro anos". Depois de algumas risadas veio o silêncio. Afinal, foram quatro longos anos de nossas vidas naquele lugar. Filosofamos que se tivéssemos passado em Engenharia, provavelmente a essa altura poderíamos projetar um edifício, ou se fôssemos formandos de Medicina teríamos condições de curar um doente. Mas, propaganda de verdade, alguém nos havia ensinado a fazer?

Havia pouco interesse dos alunos e motivação nenhuma dos professores, com raras exceções. Dos 22 colegas que entraram comigo em Publicidade e Propaganda, apenas 5 estão hoje trabalhando na área. E acredito que essa média não tenha variado por muito tempo.

Mas de alguns anos para cá estou muito mais otimista com os alunos da UFPR. Parece que descobriram que não precisam depender só da Universidade para fazer as coisas acontecerem. Criaram projetos como o Putz e o Ponto Pasta, e fizeram os alunos mostrarem seu talento para o mercado. O aluno está atualizado e se interessa mais pelo mercado publicitário.

E isso fez surgir um círculo virtuoso, onde um aluno da Federal consegue um estágio e depois, quando é efetivado, ou quando vai para outra agência, indica um colega da faculdade, pois já conhece e confia no seu trabalho. E assim vai. Diferente da minha época, hoje os alunos da UFPR estão praticamente em todas as grandes e médias agências de Curitiba.

E é neste momento que entram em vigor as novas normas de estágio. Agora o aluno não pode mais estagiar no 1º e no 2º ano. E no 3º a grade de matérias o impede de trabalhar mais do que cinco horas. Dentro do ponto de vista acadêmico faz todo o sentido. Afinal, isso impede que os alunos abandonem a faculdade para trabalhar, já que as agências não exigem diploma. E também evita que percam aulas por causa do estágio.

Mas, se pensarmos dentro do contexto de mercado, é um verdadeiro desastre para os estudantes da UFPR. Se uma agência pode contratar um estudante da PUC, Positivo, Tuiuti, FAE, UTFPR, UniBrasil e UniCuritiba para trabalhar durante seis horas, para que ela vai contratar um da Federal só por cinco horas? Os alunos da UFPR largam atrás. Quando chegarem ao 3º ano e estiverem disputando vaga com estudantes de outras universidades, vão enfrentar gente com experiência de outros empregos. E entrar em uma agência, por mais que o currículo e o portfólio ajudem, irá se tornar uma tarefa cada vez mais árdua.

Na prática, o aluno terá apenas o sétimo período para conseguir um estágio, já que as agências não têm interesse em contratar formandos como estagiários.
Encontrar estágio em seis meses é difícil. E o aluno será obrigado a se agarrar à primeira vaga que surgir, seja ela boa ou ruim. Vai fazer estágio apenas para cumprir carga horária, sem nenhuma garantia de que esse aprendizado o ajudará em sua carreira. E esse início tortuoso pode acabar comprometendo toda a sua vida profissional.

Todo mundo adora sair por aí elogiando professor, mas convenhamos que hoje, no curso de Comunicação Social da UFPR, são os alunos que merecem os nossos aplausos. Minha turma esperou o tempo passar e nada fez para melhorar a situação. Dá gosto ver os estudantes de hoje se mobilizando.

E quando o curso estiver chegando ao final, torço para que esses alunos se sentem ao redor de uma mesa na cantina da Floresta e tenham as respostas que nunca tivemos.

Jorge Uesu Junior é formado em Publicidade e Propaganda pela UFPR e Diretor de Arte.

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